Autor: Daniel Oliveira

  • Configuração de servidor OpenVPN

    OpenVPN é um sistema de rede virtual privada (VPN), usado pra criar conexões seguras entre dispositivos, protegendo a troca de informações mesmo em trajetos não confiáveis, como a internet. Implementa tanto aplicação de servidor quanto de cliente e é distribuído sob a licença GPL-2.0.

    O sistema funciona com base em infraestrutura de chave pública (PKI). Pra configurar a autenticação de forma segura é necessário gerar certificados SSL e chaves para uma autoridade certificadora (CA), para o servidor e para os clientes da VPN.

    Felizmente, não precisamos tocar diretamente no OpenSSL, que é bem complexo. Em vez disso, a gente usa o EasyRSA, uma ferramenta que nos ajuda a gerar as chaves e certificados que a gente precisa.

    Considerando uma instalação do Debian ou Ubuntu server:

    # apt install openvpn easy-rsa

    Pra facilitar e deixar a configuração organizada, copie a pasta do EasyRSA para dentro da pasta de configuração do OpenVPN.

    # cp -r /usr/share/easy-rsa /etc/openvpn/

    Vá para a pasta /etc/openvpn/easy-rsa, edite copie o arquivo vars.example como var e descomente as linhas que quiser editar de acordo com a sua preferência. Configurações sugeridas:

    set_var EASYRSA_KEY_SIZE        4096
    set_var EASYRSA_CERT_EXPIRE     731
    set_var EASYRSA_CRL_DAYS        366
    set_var  EASYRSA_FIX_OFFSET 30

    Dessa forma, os certificados serão válidos por 2 anos, a lista de revogação de certificados (CRL) por 1 ano, e todos os certificados vão ser emitidos com validade fixa a partir de 30 de Janeiro.

    Após configurado, podemos iniciar nossa PKI e gerar o CA:

    # bash easyrsa init-pki
    # bash easyrsa build-ca

    Ao gerar a chave do CA, uma senha será pedida pra criptografar a chave do CA.

    Deve-se também gerar a chave de Diffie-Hellman, que é usada para gerar a chave simétrica da conexão de VPN a ser estabelecida.

    # bash easyrsa gen-dh

    Opcionalmente, para maior segurança, pode-se gerar uma chave de autenticação para que o servidor exija uma assinatura válida nos pacotes recebidos dos clientes.

    # openvpn --genkey secret pki/tls-auth.key

    Ao gerar o par de chaves do servidor, é uma boa ideia gerar a chave sem senha pra que o serviço possa ser iniciado junto com o sistema:

    # bash easyrsa build-server-full nome_do_servidor nopass

    A senha da chave do CA ainda será pedida para assinar o certificado do servidor.

    Assim como para o servidor, você pode escolher deixar as chaves dos clientes com senha ou não passando o parâmetro opcional nopass.

    # bash easyrsa build-client-full nome_do_cliente0 nopass

    Agora, a configuração do servidor e dos clientes vai depender do propósito da VPN: pode ser um gateway, pode ser apenas para conectar um cliente ao outro, pode ser pra conectar clientes à uma LAN.

    Crie um arquivo com extensão .conf na pasta /etc/openvpn server, como por exemplo config_do_servidor.conf com esse conteúdo de exemplo – adapte-o para a sua necessidade:

    # Configurações da conexão
    # Descomente a linha abaixo e coloque o IP do seu servidor caso ele esteja dentro de uma LAN
    ;local 192.168.0.10
    port 1194
    proto udp4
    dev tun0
    keepalive 10 120
    persist-key
    persist-tun
    
    # As linhas abaixo determinam a rede privada que seu servidor vai criar
    server 10.8.0.0 255.255.255.0
    topology subnet
    push "route 10.8.0.0 255.255.255.0"
    
    # Descomente a linha abaixo e substitua a LAN pela sua caso queira que os clientes tenham uma rota para a LAN do servidor
    ;push "route 192.168.0.0 255.255.255.0"
    
    # Descomente a linha abaixo caso queira que o cliente use o servidor de VPN como gateway
    ;push "redirect-gateway def1 bypass-dhcp"
    
    # Configura resolvedores de DNS alternativos
    ;push "dhcp-option DNS 208.67.222.222"
    ;push "dhcp-option DNS 208.67.220.220"
    
    # Permite que clientes da VPN possam alcançar outros
    ;client-to-client
    
    # Limita o número de clientes na VPN
    ;max-clients 5
    
    # Configurações do processo
    verb 3
    explicit-exit-notify 1
    status /var/log/openvpn/status-conext00.log
    # Reduz o privilégio de execução após inicialização para o usuário e grupo abaixo - em distribuições da família Fedora e Red Hat, existe um usuário openvpn próprio. O grupo nogroup não existe.
    user nobody
    group nogroup
    # Mantém clientes com o mesmo IP na VPN
    ;ifconfig-pool-persist /var/log/openvpn/ipp.txt
    
    # Certificados e chaves necessários gerados através do easy-rsa
    ca ../easy-rsa/pki/ca.crt
    cert ../easy-rsa/pki/issued/nome_do_servidor.crt
    key ../easy-rsa/pki/private/nome_do_servidor.key
    dh ../easy-rsa/pki/dh.pem
    
    # Lista opcional de revogação de certificados
    ;crl-verify ../easy-rsa/pki/crl.pem
    
    # Chave TLS opcional para maior segurança, exigindo que pacotes recebidos tenham uma assinatura válida
    ;tls-auth ../easy-rsa/pki/tls-auth.key 0
    

    Observe que as linhas do tipo

    push "algum parâmetro"

    são configurações que também podem ser especificadas no arquivo de configuração do cliente em vez do servidor.

    Precisa-se também configurar as permissões de firewall e habilitar no kernel o encaminhamento em IPv4.

    Para habilitar o encaminhamento no kernel, adicione um arquivo /etc/sysctl.d/98-ip-fwd.conf com a seguinte linha:

    net.ipv4.ip_forward=1

    Reinicie para que tenha efeito ou

    # sysctl -w net.ipv4.ip_forward=1

    No firewall, para permitir conexão de clientes:

    # ufw allow 1194/udp

    Caso use o servidor de VPN como um gateway ou estabeleça rota do cliente para a LAN em que o servidor está:

    # ufw route allow in on tun0 out on eth0
    # ufw route allow in on eth0 out on tun0

    E configure o protocolo NAT adicionando este trecho no topo do arquivo /etc/ufw/before.rules

    ### START OF MANUAL NAT CONFIG
    # NAT table rules
    *nat
    :POSTROUTING ACCEPT [0:0]
    
    # Forward traffic through eth0 - Change to match you out-interface
    -A POSTROUTING -s 10.8.0.0/24 -o eth0 -j MASQUERADE
    
    # don't delete the 'COMMIT' line or these nat table rules won't
    # be processed
    COMMIT
    ### END OF MANUAL NAT CONFIG

    Lembre-se de substituir a interface física e a rede pelas do seu servidor.

    Alternativamente ao NAT, no caso da existência de uma LAN, você pode configurar no seu roteador uma rota para 10.8.0.0/24 pelo IP privado do seu servidor.

    Agora basta habilitar e iniciar o serviço:

    # systemctl enable --now openvpn-server@config_do_servidor.service

    É isso, o servidor deve estar funcionando.

    Agora precisamos que clientes se conectem. Pra isso, eles precisam de um arquivo de configuração do mesmo tipo que foi feito para o servidor. O easy-rsa não gera esses arquivos, então eu fiz um pequeno script pra resolver esse problema, que deixo em /etc/openvpn/easy-rsa/build-client-config.sh

    Conteúdo do script:

    #!/bin/bash
    
    system=$1
    client=$2
    clients_dir=./clients
    client_template_win=./clients/client.ovpn
    client_template_lnx=./clients/client.conf
    
    
    init() {
            mkdir $clients_dir
    cat <<'EOF' > $client_template_win
    client
    dev tun
    proto udp4
    remote servidor.exemplo.com 1194
    resolv-retry infinite
    nobind
    persist-key
    persist-tun
    remote-cert-tls server
    ;key-direction 1
    verb 3
    EOF
    
    cat <<'EOF' > $client_template_lnx
    client
    dev tun
    proto udp4
    remote servidor.exemplo.com 1194
    resolv-retry infinite
    nobind
    persist-key
    persist-tun
    remote-cert-tls server
    ;key-direction 1
    verb 3
    user nobody
    group nogroup
    EOF
    
            if ! [[ -f ./pki/ca.crt ]]; then
                    echo "CA não encontrado. Encerrando."
                    exit 1
            else
                    echo "" | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
                    echo "<ca>" | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
                    cat pki/ca.crt | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
                    echo "</ca>" | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
            fi
    
            if [[ -f ./pki/tls-auth.key ]]; then
                    sed -i 's/;//g' $client_template_lnx $client_template_win
                    echo "" | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
                    echo "<tls-auth>" | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
                    cat pki/tls-auth.key | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
                    echo  "</tls-auth>" | tee -a $client_template_lnx $client_template_win
            else
                    echo "tls-auth.key não encontrada, prosseguindo sem"
            fi
    }
    
    if ! [[ -d $clients_dir ]]; then
            init
            exit
    fi
    
    if ! [[ -f ./pki/issued/$client.crt ]]; then
            echo "Cliente não existe"
            exit 1
    fi
    
    if [[ $system == "-l" || $system == "--linux" ]]; then
            fileExt=conf
    elif [[ $system == "-o" || $system == "--outro" ]]; then
            fileExt=ovpn
    else
            echo "Sistema não especificado"
    fi
    
    targetFile=clients/$client.$fileExt
    
    cp clients/client.$fileExt $targetFile
    
    echo "" | tee -a $targetFile
    echo "<cert>" | tee -a $targetFile
    cat pki/issued/$client.crt | tee -a $targetFile
    echo "</cert>" | tee -a $targetFile
    
    echo "" | tee -a $targetFile
    echo "<key>" | tee -a $targetFile
    cat pki/private/$client.key | tee -a $targetFile
    echo "</key>" | tee -a $targetFile

    Pra inicializar, basta executar o script sem nenhum argumento

    # bash build-client-config.sh

    Ele vai criar uma pasta clients, com um template para Linux, client.conf, e outro para Windows, client.ovpn. Edite-os conforme necessário.

    Feito isso, é possível criar o arquivo de configuração para um cliente existente com

    # bash build-client-config.sh --linux nome_do_cliente0

    ou para Windows, macOS, iOS ou Android

    # bash build-client-config.sh --outro nome_do_cliente0
  • Instalação e configuração do WordPress

    WordPress é um sistema livre e aberto de gestão de conteúdo para a web, baseado em PHP e banco de dados compatíveis com MySQL. É comumente usado para criação de blogs, lojas virtuais e landing pages. O WordPress é distribuído gratuitamente sob a licença GPL-2.0, contando também com a opção de plugins e temas pagos que podem ser distribuídos sob outras licenças.

    Antes de começar o processo de instalação, é bom verificar os requisitos do WordPress pra determinar em qual versão de qual sistema operacional instalar, já que ele tem requisitos de versão mínima recomendada do interpretador PHP e dos bancos de dados MySQL e MariDB.

    Eu optei pelo CentOS Stream 10, mas as instruções podem se aplicar também a diferentes versões, bem como sistemas da mesma “família”: Fedora, RHEL, Alma Linux e Rocky Linux.

    O WordPress pode ser baixado em: https://br.wordpress.org/download/

    Comece instalando os pacotes necessários – servidor web, PHP e banco de dados:

    # dnf install httpd php php-mysqlnd php-gd mariadb-server

    Habilite e inicie os serviços.

    # systemctl enable --now httpd mariadb php-fpm

    Configure o firewall:

    # firewall-cmd --permanent --add-service=http
    # firewall-cmd --reload

    Você pode testar se o servidor web está ativo e processando PHP criando um arquivo /var/www/html/index.php com o seguinte conteúdo:

    <?php phpinfo() ?>

    Após verificar que está tudo funcionando, hora de configurar o banco de dados. Comece com o comando:

    # mysql_secure_installation

    E siga os prompts com o que for recomendado:

    NOTE: RUNNING ALL PARTS OF THIS SCRIPT IS RECOMMENDED FOR ALL MariaDB
          SERVERS IN PRODUCTION USE!  PLEASE READ EACH STEP CAREFULLY!
    
    In order to log into MariaDB to secure it, we'll need the current
    password for the root user. If you've just installed MariaDB, and
    haven't set the root password yet, you should just press enter here.
    
    Enter current password for root (enter for none):
    OK, successfully used password, moving on...
    
    Setting the root password or using the unix_socket ensures that nobody
    can log into the MariaDB root user without the proper authorisation.
    
    You already have your root account protected, so you can safely answer 'n'.
    
    Switch to unix_socket authentication [Y/n] n
     ... skipping.
    
    You already have your root account protected, so you can safely answer 'n'.
    
    Change the root password? [Y/n] n
     ... skipping.
    
    By default, a MariaDB installation has an anonymous user, allowing anyone
    to log into MariaDB without having to have a user account created for
    them.  This is intended only for testing, and to make the installation
    go a bit smoother.  You should remove them before moving into a
    production environment.
    
    Remove anonymous users? [Y/n] Y
     ... Success!
    
    Normally, root should only be allowed to connect from 'localhost'.  This
    ensures that someone cannot guess at the root password from the network.
    
    Disallow root login remotely? [Y/n] Y
     ... Success!
    
    By default, MariaDB comes with a database named 'test' that anyone can
    access.  This is also intended only for testing, and should be removed
    before moving into a production environment.
    
    Remove test database and access to it? [Y/n] Y
     - Dropping test database...
     ... Success!
     - Removing privileges on test database...
     ... Success!
    
    Reloading the privilege tables will ensure that all changes made so far
    will take effect immediately.
    
    Reload privilege tables now? [Y/n] Y
     ... Success!
    
    Cleaning up...
    
    All done!  If you've completed all of the above steps, your MariaDB
    installation should now be secure.
    
    Thanks for using MariaDB!

    Depois entre no shell do MariaDB com:

    # mysql

    E crie o banco de dados e usuário que serão usados pelo WordPress e configure as devidas permissões:

    > CREATE DATABASE wordpress_db COLLATE = 'utf8mb4_unicode_ci';
    
    > CREATE USER 'wordpress_user'@'localhost' IDENTIFIED BY 'uma_senha_segura';
    
    > GRANT ALL PRIVILEGES ON wordpress_db.* TO 'wordpress_user'@'localhost';
    
    > FLUSH PRIVILEGES;
    
    > \q

    Com isso pronto, extraia o zip baixado do WordPress na raiz do seu servidor web, /var/www/html, ou em uma subpasta. Então acesse sua página e configure seu WordPress.

    Detalhe adicional: você provavelmente vai se deparar com um “Erro desconhecido” ao tentar adicionar outros temas ou plugins. Isso acontece porque o módulo de segurança SELinux restringe o acesso dos processos do httpd à rede.

    Para permitir o acesso de forma permanente:

    # setsebool -PV httpd_can_network_connect true

    Dicas:

    • Ajuste a permissão do arquivo wp-config.php para 400 e mova-o para fora da raiz do diretório do WordPress. Ex: WordPress está em /var/www/html, mova o arquivo para /var/www. Nenhuma configuração é requerida o WordPress funciona.
    • O WordPress não tem nenhuma proteção contra ataques de força bruta na página wp-admin. Limite o acesso por IP. No meu caso, isso foi configurado no Nginx que atua como proxy reverso, o que vai ser abordado em outro post.
  • Um blog. Em pleno 2025. É isso.

    É só isso mesmo. Acabou o post.